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Asas e cores do dragão

by Feliciano Flor
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                         Asas e cores do dragão

               No lendário primitivo o dragão não tinha asas e era verde, a mística cor das fadas e dos duendes. A imagem inicial (sem patas) inspirou-se na figura da serpente, seguindo a milenária tradição indiana e budista, e em conformidade com várias citações bíblicas - "serpente original". 

              

                 

 

       

     1. O dragão da Mesopotâmia foi o animal sagrado do deus Marduk e ficou descrito na obra épica "Enuma Elish" (escrita cerca do ano 2000 a.C.) com o corpo dum cavalo mas com pescoço maior, dois chifres não curvos e verticais e a cauda erecta. Esta figura do deus Sirruch está representada nas torres laterais da "Grande Porta de Ishtar", a porta principal do Templo de Bei construído por Nabucodonosor na Babilónia, num revestimento das paredes em tijolos vidrados, e alternadamente com o touro do deus Adad.

                          

      2. No desenho da constelação Draco, introduzida por Potolomeu (astrónomo de Alexandria, séc.II) e que foi uma das 48 constelações referidas no Almagesto, figurava uma serpente, com a estrela Thuban (Alfa draconis) no princípio da cauda, reconhecida como Estrela Polar, desde a Civilização Fenícia até ao ano 2750.

        

 

 

     3. Nas representações artísticas do Oriente, a figura do dragão serpente evoluiu pela forte tradição dos corcodilos do rio Yangtsé e foram-lhe dadas quatro patas de tigre. Mais tarde modificaram-se outras sete partes do corpo, completando o número de nove: cabeça de camelo, olhos de lebre, cornos de veado, orelhas de boi, barriga de sapo, dorso com escamas de carpa e garras de falcão. Embora o dragão fosse considerado animal real e não mítico, incluído nos doze animais do Zodíaco que compareceram ao chamamento de Buda, existiam três principais cores: dragão azul - com 5 garras nas patas para emblema imperial, dragão dourado - que emergiu das águas do rio Loh mostrando os elementos da escrita, para decorativo de vestuário nobre ou motivo de pinturas, e dragão vermelho - para estandartes militares,  figurando encimado por um sol da mesma cor na bandeira Chinesa em seda amarela desde 1912 até à República Popular (1949).

       

     4. A superstição medieval acrescentou ao dragão as asas de morcego, e deu-lhe uma cor castanho escura ou preta, adoptada pelos pintores e pelo lendário cristão, para alegorias do apocalipse e símbologia do mal. O mito mais divulgado terá inspirado a tela de Rubens (1577-1640) - a luta de Jorge da Capadócia com o dragão, mas já anteriormente Paolo Ucelo (1396-1475) tinha criado a expressiva obra "S. Jorge e a Princesa", mostrando a filha do rei da Líbia a segurar por uma trela o seu dragão, que mostra as asas decoradas com ocelos de borboleta.

          

    5. No séc. XV, as duas mais importantes representações do dragão parecem identificar-se, embora tendo difrente colorido. Uma delas encontra-se na primeira enciclopédia medieval - Liber Floridus, concluída pelo cónego Lambert de St. Omar em 1120, mas só publicada em 1460, onde tem ainda cor verde e asas azuis. A outra é sustentada pela História, porque o dragão Zylant foi brasão da cidade de Kazan, capital da República da Tartásia, desde 1438, e a dignidade que motivou ser coroado de ouro, justificou uma cor negra com asas vermelhas.

   

         6. Duas outras representações merecem referência: a do naturalista Pierre Bolon, na "História de Peixes Estranhos" (1553) apresentando o dragão com corpo de corcodilo, duas grandes patas e asas de morcego; e o esboço de Miguel Ângelo existente no Museu do Louvre, que é de um sáurio com quatro patas, asas e longa cauda. Também esta tem sido a figura preferida pela ficção cinematográfica, mas com diferentes cores do dragão: a realização de Tom Reeve em 2004 - Em busca do Dragão, numa história que remonta ao tempo das Cruzadas com o cavaleiro George dum reino do Norte procurando a bela princesa Luma, e o filme realizado por Stefen Fangmeier em 2006, baseado no êxito do livro Eragon do menino prodígio Christopher Paolini.

            

      7. A narrativa de ficção contempla outra cor, e "O Dragão Branco" tem asas no livro de Anne Mc Caffrey que foi editado em Portugal (coleção de bolso Argonauta (2 volumes). Um dragão branco ainda figura na bandeira do Butão, a terra do dragão. Porém, este dragão não é alado e segura nas 4 patas, providas de 3 garras, as pérolas simbólicas da abundância e da felicidade.

        

     8. Na "History of the Red Dragon"- 1995, Carl Lofmark conta-nos que o dragão vermelho foi símbolo do País de Gales desde o rei Pendragon, pai do rei Artur, inspirado nos estandartes das legiões romanas e na tradição do velho deus Dewi dos ancestrais Tudor. Por isso mesmo figura na bandeira nacional com o corpo de leão, quatro patas com 4 garras, asas de morcego, língua alongada e cauda erguida, como foi representado numa emissão da moeda "One Pound" em 2002.

 

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